domingo, 19 de maio de 2013

O Dia do Amigo

02:43. O telefone toca até acordar Gabriel.
– Humm, alôôô – ninguém diz nada do outro lado, só se ouve uma música alta. Som de boate – alô! Vou desligar hein?!
– Oi Gabriel…
– Oi, Giovanna! Tinha que ser você. O quê foi?
– Me leva pra casa…
– Você está aonde?
Gabriel desliga o telefone e sai da cama. Pouco depois chega no local que Giovanna disse. Ao se aproximar da portaria diz ao segurança que precisa entrar só pra buscar uma amiga que está “mal”. O sujeito chama outro segurança e pede que o acompanhe pela boate, que não está nem cheia, nem vazia, mas ele sabe onde ela gosta de ficar e vai direto pra lá, encontrando-a sentada nos degraus da escada do mezanino. Ela não o vê chegar, porque está com a cabeça apoiada nos braços, que estão apoiados nos joelhos, quando sente ele alisar seus cabelos e levantar sua cabeça, segurando em seu queixo. Ela levanta, perde o equilibrio e seu corpo cai pra frente. Ele a abraça e então caminham para a saída.
– Ai Gabriel, você é o meu anjo protetor…
– Só você pra me tirar da cama a uma hora dessas.
– Tá zangado comigo? Fica não… Eu adoro você.
– Você está de carro?
– Tô. Só não me pergunta aonde ele está porque eu não me lembro.
Ele pega o chaveiro na bolsa dela e aciona o alarme, que faz o carro responder, não muito longe deles.
Os dois entram no carro e ele estranha Giovanna não ter ligado o rádio. Ela apenas encosta a cabeça no apoio do banco e fica com ar de entediada. Vinte minutos depois ele pára o carro em frente à casa dela.
– Entra um pouco.
– Já está tarde. É melhor eu ir andando.
– Não! Entra vai… Preciso conversar com você.
Assim que entram, aquela Giovanna calada, distante, parece ter ficado no carro. Essa parece agitada. Liga o som e começa a dançar. Gabriel procura o sofá e deixa o corpo desabar nele. Ela começa a cantar a música, misturando as vozes. E ela tem uma bela voz:
… I bare my cross, my soul, myself
I forgive… but i never forget
I’ve been put upon this earth in female form
But i can handle myself with the best of you
As well as the worst and i often have
I have the right to remain silent
But i choose to speak, sing, scream
I am lips, hips, tits… i am the power of a woman
Strong like music …
e pára bem perto dele, que dá um tapa com a mão esquerda no espaço vazio ao seu lado. Ela senta e então ele pergunta:
– E então, minha doidinha, o que você quer?
– Quero transar.
Gabriel fica aturdido. Sobrancelhas erguidas com aquele ar de incredulidade que ela conhecia tão bem.
– Você nem está tão ruim assim. Que brincadeira é essa agora?
– Eu tô carente. Precisava da sua companhia. E resolvi unir o útero ao agradável. E até queria saber também, porque que você nunca me cantou? Eu sou tão ruim assim?
– Giovanna, vai à merda! Sempre te disse que você é linda. Sendo que isso nem é preciso, porque você está cansada de saber.
– E?
– E o quê mulher? Quando a gente se conheceu, lógico que eu fiquei afim de você, só que nunca forcei nada porque você não ía me dar bola.
– Então, tae a sua oportunidade…
Ela desabotoa a frente da blusa e se livra dela rapidamente, ficando só de sutiã. Preto. Meia-taça. Seios médios. Tenros. Gabriel fica inquieto e se ajeita no sofá. Não consegue desviar os olhos do colo dela.
– Ai caramba! porque você está fazendo isso?
– Vocês são engraçados. Homem é tudo galinha e de repente fica ae com essa coisa de “quê isso?”
– Porra Gi, a gente é amigo há um tempão e duma hora pra outra você sente atração por mim? é esquisito…
– Tá bom. Adoro você. Você é o meu melhor amigo, sabe de coisas que nem minha família sabe. Eu sei que posso contar com você pra tudo, até pra matar essa curiosidade. E não acredito que isso vá estragar nossa amizade.
– Eu acho que estraga mas também acho que o risco vale à pena, mas me diz uma coisa, que curiosidade?
– Ah, deixa pra lá…
– Nops. Você quer me usar como objeto sexual e nem quer dizer o porquê?
– Tá bom. Sabe a Ana, depois que vocês ficaram, ela disse que você era “quente”, e eu fiquei curiosa em saber se é verdade…
– Rá, tá cada vez pior. Mulher fazendo propaganda? E a favor? Nunca ouvi falar nisso…
– Ôw! A gente só fala mal quando o cara é ruim mesmo. Quando é bom, a gente não fala nada pra não instigar as outras. O que não é o seu caso, já que ela sabe que você não pára com ninguém.
– Assim você me magoa – diz Gabriel, brincando.
– Ai, um galinha sensível. E então, já resolveu o que vai ser?
– Isso não vai acabar bem.
– Gabriel, cala a boca e me beija!
.
.
Giovanna acorda e vê Gabriel sentado na poltrona que fica ao lado de sua cama.
– Bom dia.
– Bom dia. Acordou que horas?
– Ainda agora. Preciso ir embora, mas olhei você dormindo e não conseguí me mexer.
– Ai pára com isso.
– E então. Matou sua curiosidade?
– Ha-ham.
– E então? Foi bom ou você vai processar a Ana por propaganda enganosa?
– Nah, foi ótimo. Melhor do que esperava.
– E como é que a gente fica?
– Phoda isso viu? Ai Gabriel, você é adorável, adoro sua companhia. A gente gosta praticamente das mesmas coisas e se conhece tão bem. E agora, descubro que é bom de cama. Porquê que eu não me apaixono por você?
– Seria porque você só escolhe os caras errados?
– Ah, mas namorar é foda! Aposto que se estivéssemos namorando, quando te liguei ontem você me mandaria à merda, que eu saí sozinha porque quis e voltaria a dormir…
– É. Pode ser que sim. Pode ser que não… A gente só vai sabe se tentar.
– É, pode ser. Mas antes de resolver qualquer coisa, porque você não vem até aqui, tentar me convencer mais um pouco do quanto pode ser bom???

® Postado no Blog antigo em 20.07.2004

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